Essa música foi composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, no clima pesado de uma Sexta-Feira Santa para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973.
Como a Censura havia proibido a letra, os dois autores decidiram cantar apenas a melodia, pontuando-a com a palavra "cálice" - mas nem mesmo isso foi possível. Segundo relato do Jornal da Tarde, a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada.
Fonte:
Livro: Tantas Palavras, Humberto Werneck & Chico Buarque, lançado em 1989, reeditado em 1995 e esgotado há muitos anos, o songbook '"Chico Buarque - Letra e música" converteu-se não apenas num sucesso de público como também na principal fonte de informação sobre a vida e a obra do compositor, p. 79 - 80.
Não há como deixar de fora a letra da música feita em parceria com Gilberto Gil.
ResponderExcluirA música trabalha com a idéia de Deus (“Pai”), a quem é ofertado um cálice litúrgico, depois transformado em imperativo a ordenar: “Cale-se!”, em referência à censura e ditadura da época.
Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
(Refrão)
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
(Refrão)
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
(Refrão)
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça
Olá Déia,
ResponderExcluirObrigada pelo elogio! também gosto muito de poesias... Visitei seu blog e percebi que você gosta também de Clarice Lispector (ela é a minha preferida!!!)
Também curti o que encontrei no seu blog, tanto que me tornei uma seguidora.
Bjo grande:)
Pai afasta de mim esse cálice.
ResponderExcluirA letra da canção de Chico e Gil mostra que os autores intuíram que Jesus nao veio para morrer como criminoso, e que esse crime resultou do livre arbítrio dos humanos. Não era um holocausto programado para livrar a humanidade de seus pecados, por isso disse Jesus: "Pai perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem"!
Olá Benedicto,
ExcluirSem dúvida! "Pai perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem" é a primeira das sete breves frases de Jesus na cruz. Esta primeira frase foi dita em forma de prece para que Deus perdoasse a ignorância daqueles que o crucificavam. Ela também reflete e confirma uma exortação anterior de Jesus, quando pedia insistentemente que seus seguidores amassem e perdoassem seus inimigos.
Abraço e obrigada pela visita!